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Mais de cinco mil pessoas visualizaram a primeira live da nova série promovida pela Unafisco Nacional, intitulada + Humanos, com o tema Saúde Mental no Isolamento. O evento on-line ocorreu em 12/8, tendo transmissão simultânea pelo Facebook e pelo YouTube. Os internautas puderam fazer perguntas. Participaram da live a psicóloga e psicopedagoga Cristina Monteiro (www.cristinamonteiro.com.br), também formada em Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness (MBCT) e proprietária do Ponto de Diálogo e Reflexões, empresa que oferece palestras, treinamentos, cursos livres, coaching e psicoterapia; e a dra. Susan Andrews, psicóloga, antropóloga e monja, além de fundadora e coordenadora do Instituto Visão Futuro (www.visaofuturo.org.br), um centro de desenvolvimento pessoal e social localizado em um parque ecológico em Porangaba/SP.

O evento teve mediação do presidente da Unafisco Nacional,  Auditor Fiscal Mauro Silva. Após fazer breve introdução e apresentar o currículo das palestrantes, Mauro aproveitou para lembrar do saudoso associado Luiz Antônio Bueno Monteiro, pai de Cristina, que foi durante anos assessor de imprensa e porta-voz da Superintendência da 8ª Região Fiscal da Receita Federal.

Tratando de isolamento social no contexto atual da pandemia causada pela Covid-19, a dra. Susan Andrews começou sua fala explicando que a necessidade de conectar-se é algo inerente à natureza humana, pelo processo evolutivo. “A falta de conexão causa muitos problemas físicos e mentais. Por isso, acho que neste episódio inédito que estamos enfrentando coletivamente, o que mais estamos sentindo falta, especialmente no Brasil, é de abraçar. Precisamos entender como lidar com isso.” Segundo a dra. Susan, pesquisas indicam que a dor da solidão ativa as mesmas áreas no cérebro que as que percebem dores físicas, sendo um estressor que pode inclusive gerar problemas no organismo. “Precisamos desenvolver maneiras de desativar o estímulo do sistema nervoso simpático [emite mensagens como calor, frio ou dor] e ativar o sistema parassimpático [estimula ações no organismo para situações de calma] para desinflamar nosso organismo e manter a nossa saúde física e mental.”

Por sua vez, Cristina Monteiro ponderou que o momento, por conta da pandemia, é de uma espécie de luto da humanidade, podendo cada pessoa estar em uma das cinco fases clássicas do luto, que são de negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.  “A gente precisa perceber o quanto o ser humano é frágil e o quanto a gente precisa se reconectar com nós mesmos para ter um mínimo de flexibilidade e resiliência para dar conta da vida.” Para a psicóloga, uma situação em que todas as certezas são quebradas leva a uma crise de identidade, mas também é uma oportunidade de olhar para dentro e pensar que tipo de vida estávamos levando e para aonde estávamos indo. Esse processo pode causar crise e depressão, “mas também vem a possibilidade de pedir ajuda e buscar novas formas de conexão.”

Atenção plena e meditação. Já entrando nas perguntas dos internautas, as psicólogas responderam sobre o que é possível fazer de forma simples, além do auxílio de um especialista, para lidar com o isolamento. Cristina Monteiro frisou que é importante procurar técnicas de meditação e observar os hábitos diários, para entender as minúcias de como tem se comportado nesse período, inclusive podendo manter um diário. Por sua vez, a dra. Susan Andrews complementou a fala de Cristina explicando que pode ser feita uma autoanálise focada em duas perguntas: "o que eu deveria estar aprendendo com isso" e "será que eu estou aprendendo o que deveria".

Na sequência, Cristina explicou o que é Mindfulness. Trata-se de uma qualidade de atenção plena, da intenção de prestar atenção ao que fazemos e como estamos fazendo, como nos relacionamos com o que está ao redor.  “Então é nessa atenção que eu vou trazer uma qualidade de gentileza comigo mesmo, de autocompaixão, porque eu vou me relacionar de maneira diferente da que comumente nos relacionamos, que é com autocrítica, com julgamento ou desatentos.” Ou seja, estar presente plenamente nas atividades, considerar cada detalhe. Para a dra. Susan essa atenção plena está conectada com a prática da meditação.

Respondendo a outra questão dos internautas, sobre como lidar com os efeitos nocivos na química do corpo causados pelo isolamento, as psicólogas reforçaram que a meditação tem um papel importante. Cristina salientou que a prática traz efeito positivo, pois causa uma sensação de relaxamento, equilíbrio e conforto. A dra. Susan citou também outras práticas como respiração, ioga e alimentação apropriada.

Sobre alimentação, Cristina recomenda ter uma atenção plena também neste sentido, estando consciente sobre o que come, com que frequência, qual efeito que cada alimento traz para o corpo e para a mente. Já a dra. Susan cita que ela tem recomendações sobre alimentos anti-inflamatórios e antioxidantes. Ela contou que come todo dia açafrão-da-terra, que tem efeitos positivos no aspecto cognitivo e para lidar com o estresse. "Na Índia, eles têm o menor índice de Alzheimer do mundo e uma das razões é que todas as refeições e os doces têm um pouco de açafrão-da-terra.”

Família e dinâmica da casa. Outro assunto levantado foi se as diversas faixas etárias precisam de cuidados diferentes diante do isolamento. Para Cristina é preciso aproveitar o isolamento para repensar a instituição familiar, levando em consideração que o modo como lidamos com contexto atual reflete nos demais membros da casa e na nossa capacidade de cuidar deles. Por isso, cuidar de si já é um fator positivo que impacta em toda a família. "Se os pais estão vivendo um estresse muito grande, consequentemente a criança também vai viver esse estresse".

Em sua fala, a dra. Susan citou um estudo americano que indica que quando os pais contam histórias (tanto de ficção quanto da própria família) para os filhos, esse é um fator importante no desenvolvimento da criança. "Eu acredito que é um momento de inspirar heroísmo nas crianças, para que elas não fiquem traumatizadas, com uma sensação de medo a vida inteira."

Outro ponto abordado foi como lidar com a dinâmica das aulas virtuais. Para Cristina, essa é uma oportunidade dos pais serem mediadores dos filhos em relação à tecnologia, direcionando como o virtual pode fazer parte da vida deles de forma saudável. A dra. Susan comentou que o excesso de estímulos e telas traz um estresse ocular, especialmente causado pelas videoconferências, que está sendo chamada de “fadiga Zoom.” Uma das formas de combater isso seria dar momentos de descanso para os olhos e também ter contato com o verde, com as plantas, que têm efeitos benéficos.

Outra pergunta dos internautas foi sobre como a presença de animais de estimação pode ajudar neste momento de isolamento. Cristina Monteiro comentou que o número de adoção de animais deu um salto no começo da quarentena e que ela vê isso como positivo, pois os animais precisam de afeto como os seres humanos, então é uma troca que ajuda a suprir o vazio deixado pela falta do contato social. “O isolamento trouxe muita carência afetiva e ter um animal doméstico dá um acolhimento muito grande.”

Estresse e os Auditores Fiscais. Trazendo para o dia a dia dos Auditores Fiscais, o presidente da Unafisco, Mauro Silva, contextualizou que a Classe lida com teletrabalho e muitas reuniões, quando não estão na linha de frente da fiscalização. “Por um lado vem as cobranças e o estresse, por outro você não interage socialmente no trabalho e nem fora do trabalho”, então surge o questionamento de como lidar com essa pressão.

Cristina comentou que a possiblidade de fazer parte de grupos sobre assuntos específicos, mesmo que virtualmente, como no caso do programa de Mindfulness que ela oferece via Zoom, "é uma forma das pessoas se integrarem, olhando para si e também estando em grupo." A dra. Susan complementou que uma prática importante é, em um dia cheio de tecnologia e cheio de afazeres, fazer uma pausa e procurar “ilhas de paz.” Ela citou ainda uma prática que pode ajudar durante o trabalho, que é, antes de começar qualquer reunião, “todo mundo fazer uma pausa, fechar os olhos e respirar juntos profundamente para centrar-se, para a mente focar e dar o seu melhor no encontro.”

Outro assunto levantado foram os constantes ataques feitos aos Auditores e aos servidores públicos, como os recentes dados distorcidos veiculados pelo Jornal Nacional. Para lidar com a frustração causada por esse tipo de ataques constantes, Cristina comentou que é preciso criar uma barreira mental e focar em cuidar de si. A dra. Susan citou o ensinamento de uma poesia indiana, que traduzida significa "o elefante vai pelas ruas do mercado, enquanto um monte de cachorros vai latindo e mordendo seus calcanhares. O elefante não se importa e anda para frente, porque ele está no caminho da verdade."

Assista abaixo à live na íntegra: