Neste momento, todas as áreas profissionais correm para obter o máximo que a inteligência artificial pode oferecer. Tanto é assim que a evolução da IA tem impactado cursos tradicionais do ensino superior. A Faculdade de Direito da Fundação Getulio Vargas (FGV), por exemplo, oferece disciplinas eletivas específicas por meio do Labtech, laboratório de tecnologia para o ensino jurídico na instituição. Uma delas é a de automação de documentos jurídicos, com o auxílio da IA.

Em entrevista ao Estadão, a coordenadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP, Marina Feferbaum, afirmou que a instituição promove muitos treinamentos com professores para o uso de ferramentas de inteligência artificial, com o intuito de aproveitarem as ferramentas dessa tecnologia na graduação.

Outro curso tradicional pelo qual a IA ganha espaço é o de Medicina. A Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein já utiliza robôs semelhantes aos humanos. A instituição criou um núcleo de professores de várias áreas de graduação para discutir a inteligência artificial. O Einstein também desenvolveu um manual de orientações para docentes e alunos, abordando o uso da referida tecnologia.

O impacto dos assistentes digitais cognitivos. Um segmento da inteligência artificial que deve impactar o mercado de trabalho são os assistentes digitais cognitivos. Esses programas são projetados para simular a interação humana e realizar tarefas complexas, como responder a perguntas, tomar decisões e aprender com a experiência.

O pró-reitor da Faculdade de Informática e Administração Paulista (Fiap), Wagner Sanchez, destacou que os assistentes digitais cognitivos devem atender profissões como médicos, advogados e arquitetos, por exemplo. “Por que o médico não pode entregar os exames do paciente para uma segunda opinião ou, ainda, um advogado pedir auxílio para escrever uma petição?”

“Eu brinco com os alunos: você não vai ser substituído pela IA, mas sim por alguém que a conheça. Não trabalhe como um robô, senão você pode ser substituído por um deles.”

Demanda na Receita Federal. A complexidade crescente das operações financeiras e a necessidade de acompanhar as constantes mudanças no cenário econômico exigem soluções cada vez mais sofisticadas e eficientes na Receita Federal.

A inteligência artificial deve ser uma poderosa ferramenta para auxiliar os Auditores Fiscais a lidar com essa demanda, proporcionando análises mais profundas e precisas de grandes volumes de dados. A nova tecnologia também permite detectar padrões e anomalias que seriam de difícil identificação, por meio de métodos tradicionais.

Para se ter ideia, a Receita Federal criou o Projeto Analytics, por meio de uma plataforma desenvolvida com o uso da inteligência artificial, com a participação de Auditores Fiscais. A iniciativa já obtém resultados significativos em várias áreas da administração tributária. O projeto utiliza algoritmos de inteligência artificial e análise de redes complexas para potencializar a avaliação dos dados fiscais e proporcionar um significativo incremento na capacidade de detectar fraudes e ilegalidades. Segundo a Receita Federal, a ferramenta oferece mais segurança à tomada de decisões e amplia a produtividade da atuação fiscal.

 O órgão afirma que a combinação de técnicas diversas tem sido relevante para identificar transações suspeitas e indícios de esquemas complexos de sonegação tributária e de lavagem de dinheiro com uso de criptomoedas.

Com a nova ferramenta, a Receita Federal descobriu um potencial esquema envolvendo R$ 700 milhões movimentados por empresas de fachada para a compra de criptomoedas. Foram detectadas operações de importações e remessas internacionais com fortes indícios de irregularidades tributárias e de cometimento de outros crimes.

Em outro caso, foi possível constatar um esquema de sonegação fiscal que envolveu lavagem de dinheiro para o tráfico de drogas e armas. A quantia movimentada pelos criminosos foi de R$ 350 milhões em criptomoedas.

 O Projeto Analytics tem sido apresentado em fóruns internacionais, como em um evento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em junho deste ano.

Novo cenário. A inteligência artificial estabelece um novo cenário nos mais variados segmentos profissionais. E a utilização da IA será cada vez maior na Receita Federal. Entretanto, é primordial que o órgão invista de forma contínua nessa tecnologia.

Também é necessário investir na capacitação dos Auditores Fiscais no uso da inteligência artificial, para que possam acompanhar de perto toda a evolução da IA.

Com essa nova tecnologia, os Auditores Fiscais podem se empenhar mais em análise e julgamento, o que é de grande valia para a Justiça Fiscal, com reflexos portanto na arrecadação de tributos e no combate à sonegação, entre outras ações.

Abaixo, leia a primeira parte desta notícia:

Parte 1: Investimento em IA tem que se preocupar com o ser humano

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