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Quem vê o senhor dirigindo perfeitamente ou estacionando o carro no supermercado nem imagina que de trás daquela máscara branca, usada para se proteger da Covid-19, está o Auditor Fiscal aposentado Ramiro Wanderley Dutra, que completa 90 anos de idade, no dia 5 de agosto.

Com o automóvel, ele circula pela cidade onde mora, Governador Valadares/MG. “Só não dirijo na estrada, parei.” Mas as memórias não param e parecem não ter limites. "Nasci e cresci em Itinga/MG. Lembro-me da primeira vez que votei para presidente da República. Votei em Getúlio Vargas.” Este voltaria ao poder pelos meios democráticos, mas aí são outros 500.

No entanto, foi outro presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek, que nomeou Ramiro, em 19 de agosto de 1957, para exercer o cargo de escrivão da Coletoria do Quadro Permanente do Ministério da Fazenda lotado no Estado de Minas Gerais. Segundo Dutra, ele ainda teve o privilégio de instalar em Itinga, naquele mesmo ano, o que seria a Delegacia da Receita Federal na cidade (na época denominada Coletoria Federal), criada pela Lei nº 2.584, de 1º de setembro de 1955. “Tomei posse em Belo Horizonte/MG, fiz estágio em Araçaí/MG e, em seguida, instalei a Delegacia.”

Chegaram os anos de 1960. “Quando eu trabalhei na Receita, no Setor de Arrecadação, fui chefe de Débitos e Processos Fiscais, que fazia cobrança e parcelamento de débitos [tributários] (…). Hoje modificou tudo. Tem tantos processos que você tem que pegar uma senha para ser atendido.” Com essa experiência, qual seria a opinião de Ramiro sobre a criação exacerbada de Refis? Porque no fim das contas esses parcelamentos acabam deseducando o contribuinte e beneficiando quem não cumpre obrigações tributárias. Ele não poderia ser mais direto: “um absurdo!”

É curioso como uma recordação puxa a outra. “Antigamente, eu fazia curso em Belo Horizonte [de aperfeiçoamento profissional], voltava e já acionava os contribuintes com renda superior a cem mil cruzeiros, profissionais liberais com renda superior a cem mil reais, por exemplo, pois saía uma relação [como de sonegadores] e a gente acionava (…). Agora, hoje, tem que abrir um processo para saber por que você está acionando, hoje está muito mais rigoroso.”

E a Reforma Tributária, hein? Para Ramiro, o atual contexto do coronavírus não é o momento mais adequado para falar sobre Reforma Tributária (RT), embora ele ache que a reforma seja necessária, pois na opinião dele o Brasil possui muitos tributos. “Mas as coisas vão se estabilizar, vai acabar esse negócio de coronavírus e aí, sim, vamos falar disso.” Ao comentar sobre RT, Ramiro ainda aproveitou para dizer que há, no Congresso, uma movimentação para tributar grandes fortunas. “Eles falam disso há muitos anos (…). Você que é assalariado, já vem descontado o imposto no seu contracheque, você paga mais imposto do que um milionário que tem avião, fazenda.”

Netos. Para incentivar os netos Felipe (14 anos), Anne (15 anos) e Bruno (18 anos) a participar e terem nota alta no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Ramiro fez algo inusitado: ele próprio se inscreveu no Enem, no modo presencial, como seus netos. “Até lá já terei feito 90 anos.” Bruno busca pontuação porque almeja ingressar no curso de medicina, e os mais novos “vão para ganhar experiência no exame”, diz.

Atualmente, Ramiro Wanderley Dutra é diretor de Assuntos de Aposentadoria e Pensões da Delegacia Sindical de Governador Valadares/MG do Sindifisco Nacional.

Uma vida repleta de significados e conquistas. De atividades em prol do Brasil. Um legado maravilhoso que certamente orgulha não somente filhos e netos, mas a todos os Auditores Fiscais e sociedade brasileira. Porque referenciais, sejam de ontem ou de hoje, sempre dignificam uma classe, um país.