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Título: Unafisco calcula perdas com capitalização
Publicação: Valor
Autor: Fabio Graner
Data: 10/4/2019

 

Sem a contribuição patronal, os valores de aposentadoria dos trabalhadores no regime de capitalização ficarão bastante inferiores aos seus salários da ativa. A avaliação foi feita pela Unafisco Nacional, entidade ligada aos auditores fiscais da Receita Federal.
 
O diretor de Defesa Profissional e Estudos Técnicos do Unafisco apresentou ao Valor cálculos que mostram que, sem aporte patronal, a renda do trabalhador pode cair de um terço a um quinto do seu valor da ativa quando se aposentar.
 
Utilizando-se de um exemplo no qual o trabalhador ganha três salários mínimos e contribui sozinho com 11% dessa renda, ao final de 35 anos de contribuição, o trabalhador que iniciou seus aportes com 25 anos acumularia R$ 258,5 mil. Nas contas de Silva, que considera uma taxa de juros real de 2,9% ao ano, esses recursos seriam suficientes para bancar apenas sete anos de aposentadoria com os três salários mínimos da ativa.
 
Para ter renda até os 84 anos, considerando a expectativa de sobrevida de praticamente 24 anos para quem chega aos 60 anos, a renda que o montante acumulado permitiria seria de R$ 1,1 mil mensais, praticamente um terço da renda da ativa.
 
Esse cenário sequer considera as taxas de bancos que gerenciaram a conta de capitalização. Nesse caso, considerando 2% de taxa de administração anual e mais 2% de carregamento, o saldo acumulado cairia para R$ 168,7 ao final do período de contribuição, bancando apenas quatro anos de salário integral ou uma renda média em torno de R$ 600 até os 84 anos, ou um quinto do valor da ativa.
 
"Essa é a tragédia chilena traduzida em números", disse Silva. "O sistema não funciona sem a contribuição patronal", argumentou, dizendo que é o caso de no mínimo se discutir um valor inferior aos atuais 20% que incidem sobre a folha de salários, o que desoneraria o empregador, mas não achataria tanto o rendimento futuro do empregado.
 
A ideia de não cobrar do empregador a contribuição previdenciária no sistema de capitalização é defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele avalia que a medida, se mantida por ao menos 20 anos, poderia gerar um boom de empregos.
 
A intenção dele, contudo, já tem sido alvo de frequentes ataques no Congresso Nacional.
 
Mesmo na equipe econômica já se reconhece que a capitalização pode ser um dos "bodes" a ser retirados nas negociações com os parlamentares, pois não afeta imediatamente as contas  previdenciárias e tem sido utilizado como mote da oposição para tentar colocar no governo a imagem de cruel com a população. Nesse sentido, os problemas atuais do Chile com o sistema de capitalização criado nos anos 70 têm sido reiterados pelos críticos da reforma de Guedes.
 
 
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