A Unafisco Nacional promoveu, em 8/10, mais uma live da série + Humanos, dessa vez com o tema Conexões Humanas em Tempos Digitais. Quem falou sobre o tema foi a atriz e palestrante Denise Fraga, com mediação do presidente da Unafisco Nacional, Auditor Fiscal Mauro Silva. A transmissão, feita pelo Facebook e canal do YouTube da entidade, teve mais de 2 mil visualizações.

Trazendo a questão das conexões humanas para o contexto atual de isolamento causado pela pandemia da Covid-19, Mauro Silva abriu a live com a reflexão de que essa situação impactou a relação das pessoas de várias formas, como nos estudos e no trabalho, podendo inclusive ter efeitos negativos psicologicamente. Sendo assim, um desafio atual seria como viver melhor, contornando as dificuldades impostas pelas medidas de isolamento.

Aproveitando a introdução do presidente da Unafisco, Denise Fraga comentou que o momento pode servir como uma oportunidade de crescimento e aprendizado sobre como utilizar os recursos tecnológicos à disposição de uma maneira mais “efetiva e afetiva” no modo de nos relacionarmos uns com os outros. Nisso, ela citou o próprio exemplo, de ter mudado a forma de se comunicar com a mãe, que mora em outro Estado: antes a comunicação era muito mais por mensagens de WhatsApp e ligações, agora o contato a distância ocorre mais por chamadas de vídeo, o que dá a sensação de um contato mais próximo e afetuoso.

Denise reflete que a dinâmica da sociedade atual, muito frenética, faz com que as pessoas se sintam sobrecarregadas, sem parar um minuto, o que acarreta problemas. “Antes dessa pandemia a gente já vivia uma epidemia silenciosa. Eu nunca havia visto tantas doenças de ansiedade.” Essa dinâmica frenética e conectada, de acordo com a artista, tem vários efeitos de “reformatação” no comportamento das pessoas. Para que os efeitos desses novos padrões não tragam consequências nocivas, a proposta é refletir sobre essas mudanças e, ativamente, exercitar comportamentos que tragam equilíbrio à rotina.

Entre as dicas dadas por Denise está procurar momentos na rotina para se “manter em dia consigo mesmo”, por meio de atividades pessoais, seja nas artes ou em outros assuntos de interesse, que tragam satisfação. Durante a live ela ressaltou que também é preciso cultivar o silêncio, “algo que o mundo virtual não tem.” O silêncio breve no meio de um discurso deixa a fala ecoar, ajuda a assimilar o raciocínio que foi exposto, dá um peso maior para as palavras. Assim, cultivar essas pausas tem a ver com absorver melhor o que chega até nós.

Em tempos digitais, a tendência das pessoas é ficarem mais introspectivas, menos abertas para ouvir umas às outras, e isso é um problema. “O homem foi feito para viver em bandos. Saindo de sua natureza, ele vai sofrer.” Ter consciência da forma como nos relacionamos e exercitar pequenos gestos, desde um “bom dia” desejado de forma sincera e menos protocolar, são caminhos para melhorar nossas conexões pessoais e a relação com as pessoas em geral.

Denise Fraga lembrou das lições de uma das peças em que atuou, A Alma Boa de Setsuan, com texto de Bertolt Brecht. Na história, uma bondosa dona de uma tabacaria, cansada de ver sua gentileza ser explorada pelos moradores de sua vizinhança, se disfarça de homem, um primo incumbido de cuidar dos negócios de forma dura e às vezes cruel. Denise observa que, muitas vezes as pessoas colocam a gentileza em segundo plano por medo de terem essa abertura abusada, como ocorre na narrativa. Um caminho melhor seria ter uma “gentileza firme”, saber a hora de dizer não e aprender a conversar sobre as situações e limites.

A atriz ressalta que manter uma relação aberta e afetuosa com as pessoas é uma coisa que não se pode ter como garantido, mas que na verdade requer exercício. Para que isso seja possível, é preciso se colocar no lugar do outro, se perguntando “e se fosse comigo” diante das situações, além de procurar compreender não só o que foi dito, mas o que as pessoas deixam de dizer.

Denise Fraga chama atenção para o perigo das bolhas de ideias, potencializadas no meio digital. Estando fechados dentro das mesmas perspectivas e modos de fazer as coisas, sem dar espaço para dialogar de uma forma não agressiva, perdermos as oportunidades de “reconhecer nos outros as diferenças e o que cada um tem de melhor”, assim perdendo a oportunidade de aprender e de aproveitar o potencial do trabalho em conjunto.

Seja nas relações presenciais ou digitais, é preciso um equilíbrio entre a individualidade e a empatia com as pessoas ao redor, para que possamos agir de forma colaborativa. “Eu adoro uma frase do Paul Singer que diz que nosso grande desafio é nos equilibrar entre o nosso instinto de sobrevivência e o nosso instinto de solidariedade. Ele coloca a solidariedade como instinto, porque nós somos instintivamente solidários”, diz Denise.